Irmãos: as principais dúvidas e situações sob o viés da disciplina positiva
Com a ajuda a partir das experiências de algumas clientes, separei as situações e dúvida mais comuns dos pais que tem mais de um filho. As seguintes respostas e situações se aplicam para diversos tipos de irmãos, sejam os dois da mesma idade, gêmeos, ou com uma pequena diferença entre si.
Um dos irmãos entendeu bem os limites e “regras”, mas o outro ainda está em processo de assimilação e não atende tão bem. Como gerenciar a situação?
Cada criança tem naturalmente um tempo diferente para absorver as regras. Então você terá que atender a necessidade de cada criança de forma diferente - é igual ao jeito de lidar com irmãos de idades diferentes. Adapte as ferramentas da disciplina para cada criança em específico. Lembrando que muitas vezes a criança aprende por exemplo, então use isso em benefício para a outra criança aprender pelo exemplo que você está dando ao ter que lidar com o irmão.
A teimosia de uma das crianças implica em risco de acidente e não há muito tempo para conversar.
Nem sempre o diálogo consegue ser a melhor opção no calor do momento. Principalmente com crianças pequenas, dentro da disciplina positiva, falamos muito do “faça, ao invés de falar”. Então, se a criança está fazendo algo que apresente algum risco, como: subindo em uma cadeira com o risco de se machucar, mexendo no lixo, etc… você pode pegar a criança no colo, descer ela e redirecionar sua atenção para algo que ela possa brincar. Seja o exemplo, mostre o que ela pode e deve fazer ao invés de falar e dar sermões.
Enquanto um entende bem e colabora, o outro ainda desafia.
Separe a criança que estiver desafinado ou incomodando, tire ela do cômodo, se abaixe no nível dela e explique de uma forma que convide sua cooperação. Geralmente quando entramos em uma luta de poder com a criança, funciona muito bem usar a ferramenta das escolhas limitadas - colocar ela em um pequeno comando, mudando seu foco da obediência para cooperação. Vou explicar mais detalhadamente sobre essa ferramenta nos próximos itens.
Como estabelecer a disciplina positiva simultaneamente em crianças com perfis comportamentais distintos?
Mesmo as crianças tendo personalidades diferentes, isso tem muito a ver com o nosso primeiro item no post, ou seja: você vai ter que adequar a disciplina conforme o que cada criança necessita aprender. Por exemplo, se você tem filhos gêmeos, eles podem crescer em ritmos e formas diferentes. Então vamos supor que Maria precise de sapatos maiores enquanto Julia precisa de camisetas maiores, de acordo com o crescimento de cada uma. Se você só comprar sapatos pra duas, você acaba sendo injusto com uma delas, mesmo tendo uma atitude similar. Esse é o conceito que também devemos aplicar à disciplina.
Você vai ser justo não tratando de forma exatamente igual, mas sim entendendo e atendendo às necessidades diferentes e específicas de cada uma. Então, por exemplo, uma criança de personalidade forte você provavelmente vai precisar trabalhar bastante a cooperação através das escolhas limitadas e já com uma criança mais tímida você vai ter que trabalhar essa questão da personalidade através da ferramenta de encorajamento para ela ir atrás do que seja. Ou seja, cada traço que você quer encorajar ou desencorajar em cada criança, escolha as ferramentas apropriadas.
Ao se comportar mau, quando conversei a criança entendeu.. então tentei redirecionar a sua atenção para outra coisa e ainda assim continua teimando, bem como incentivando a outra a fazer.
Se a criança estiver chamando a atenção, o que ela precisa é justamente da sua atenção. Mesmo se for no caso de gêmeos, cada uma precisa de um tempo individual com cada um dos pais. Então se você perceber que uma das crianças muda de comportamento para outro tentando chamar a atenção dos pais ou de outros adultos que estão cuidando, é o momento para você se organizar e tirar 10/15 minutos sozinha com ela diariamente, tendo um momento especial com essa criança (sem se esquecer de dispor esse tempo também com o irmão), e assim preenchendo seu potinho de amor incondicional e atenção.
Isso irá reduzir de forma indireta essa necessidade dela de querer chamar a sua atenção à qualquer custo. Lembrando que: para a criança qualquer tipo de atenção é melhor do que nenhuma atenção - então é muito comum, principalmente entre as menores, tentar chamar a atenção dos pais através de comportamentos negativos. Se a criança aprende que o mau comportamento é a forma que ela consegue sua atenção imediata, ela achará isso eficiente e continuará repetindo esse ciclo.
Houve uma fase em que as crianças trocavam agressões, disputando pelo mesmo item. Foi explicado que isso poderia ser resolvido na base da conversa. Um entendeu e parou com as agressões. Mas o outro não absorveu e continuou agredindo. Agora o irmão fica paralisado de medo, pois não quer agredir o irmão mas tem medo de ser agredido.
Quando a criança está agredindo, você precisa ter a reação imediata de parar essa interação. Em seguida, nomear e validar o sentimento da criança e manter os limites de maneira firme e gentil. Pense em algo como: “Filho, eu vejo que você está muito bravo, tudo bem se sentir bravo, não está tudo bem bater no seu irmão. Eu vou pegar seu irmão/você no colo para manter ele seguro.” E ajude a criança a se acalmar.
É necessário ensinar a criança formas eficientes de expressar a raiva, não sendo suficiente apenas falar que não pode. Quando ela estiver mais calma, ensine o que ela poderia fazer no momento que sentir essa grande emoção que não machuque ou prejudique os outros.
Já conheço alguns itens da disciplina positiva e mesmo me abaixando, falando de maneira calma, elas ainda resistem. Além disso, cada criança tem um temperamento diferente. Quais métodos aplicar nesse caso?
A disciplina positiva não tem o objetivo de tornar a criança 100% obediente. Ou seja, não tentamos criar obediência, e sim, cooperação. Se você fala “Filho, você quer tomar banho?” você dá a oportunidade da criança dizer tanto “Sim, eu quero.” quanto “Não, eu não quero” - e isso vai soar como uma resistência para você. Mas se você disser “Filho, está na hora do banho, você quer ir pulando ou correndo?” você dá uma escolha para criança, compartilha seu poder com ela e encorajando a cooperação com ela, sem a opção de ela rejeitar o que está sendo pedido.
Então dentro da disciplina positiva e de estudos da neurociência infantil, temos muitas ferramentas que vão melhorar a cooperação. Busque mudar seu pensamento da obediência para cooperação - pedir ajuda, escolhas limitadas, compartilhar um pequeno poder são algumas formas de fazer isso.
Lembrando que nem todas as ferramentas funcionam com todas as crianças o tempo todo. Então você precisa estar atenta a forma que você e a criança reage. É sempre um processo de aprendizagem e evolução.
Livros recomendados pra se aprofundar no assunto: 3a edição Disciplina Positiva - Jane Elsen | O cérebro da criança - Daniel J. Siegel e Tina Payne Bryson.
A criança está na fase de rejeitar tudo e não sei como lidar.
Quando a criança está sempre recusando algo, verifique se você não está falando “não" demais para ela durante o dia a dia. Inverta o foco negativo para o positivo e dê mais destaque durante a rotina no que ela pode fazer em vez do que ela não deve fazer. Essa recusa constante é uma luta de poder - então trabalhe com a ferramenta de escolhas limitadas.
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