Sobre o receio do escuro e outros medos comuns da infância.
As crianças podem experimentar diversos medos em qualquer idade e geralmente - quando eles não atrapalham de maneira séria o dia a dia da criança - eles são comuns para o seu desenvolvimento saudável para vida adulta. Mas como agir na prática em relação ao medo dos pequenos?
Nesse artigo, usando o exemplo do medo do escuro que é algo muito comum entre todas as idades, vamos tentar enxergar um pouco sobre a raíz do problema e verificar algumas dicas práticas juntos:
Alguns dos medos mais comuns de acordo com a idade:
0-2 anos
Ansiedade de separação. Barulhos altos e outros estímulos que sejam muito exagerados para seus sentidos. Estranhos e qualquer coisa que pareça fora do seu controle/independência.
3-4 anos
Temporais, barulhos altos e outros estímulos que pareçam ameaçadores. Coisas fora do usual (como um familiar com uma cor nova no cabelo, sem barba, etc). Monstros e fantasmas. Pessoas fantasiadas. Ansiedade de separação dos pais e da família. Escuro, sombras e coisas relacionadas.
5-6 anos
Ansiedade de separação. Se perder. Ficar doente. O escuro e coisas relacionas à noite. Pesadelos. Coisas relacionadas à imprevisibilidade e fora do seu controle como temporais, fogo, vento, etc.
7-11 anos
Coisas relacionadas à imaginação da noite como bruxas, fantasmas e monstros. Ficar sozinho em casa. Ser esquecido. Algo de ruim acontecer com seus animais de estimação e pessoas queridas. Ser rejeitado.
Na prática:
O medo é um mecanismo de defesa natural
O medo é uma resposta natural do nosso cérebro para nos defender de possíveis ameaças. Há estudos que até mesmo o nosso DNA tem interferência nesse sentimento ancestral que faz parte de qualquer ser humano. Ou seja, teremos essa sensação durante nossa vida inteira - mas na infância é comum que o medo e suas causas pareçam algo mais vívido ainda. Diferentemente de um medo que prejudique e paralise a criança, se trata de um desenvolvimento saudável que ajuda os pequenos a se manterem seguros e não terem ações que podem ser prejudiciais ou perigosas para eles - como, por exemplo, o medo de ser sequestrado, queimado, se afogar, etc.
Tenha essa perspectiva: não é exatamente o escuro que assusta
No caso de medos comuns como o escuro, não é exatamente ele que assusta - e sim a falta de percepção que ele proporciona para enxergamos possíveis ameaças. A sensação de vulnerabilidade e exposição à aquilo que não estamos conseguindo ver. Por isso, é importante ver além do óbvio na hora de tentar ajudar a criança.
Fatores externos que podem ter influências negativas
É importante ter controle sobre a exposição de certos filmes e fatores externos que podem influenciar na imaginação da criança. Sabemos que muitas vezes os fatores externos ajudam a alimentar de forma não saudável a imaginação dos pequenos. Se atente aos ambientes, dia a dia, pessoas e classificações indicativas.
Uma alimentação e estilo de vida saudável pode ajudar
Pode parecer usual que a alimentação possa ter alguma influência no medo da criança, mas vale lembrar que o corpo e a mente estão conectados e existem alimentos que ajudam a promover o sono e reduzir a ansiedade. Com o passar do dia, evite comidas muito industrializadas, quantidades altas de açúcar e cafeína. Invista em alimentos com uma boa quantidade de magnésio e outras vitaminas que ajudem a promover o relaxamento. Chás como camomila ou maracujá podem ser ótimos nesse momento também.
A hora de dormir é um momento para se conectar
Se a criança está passando pelo medo do escuro na hora de dormir, por exemplo, pode ser que ela esteja relacionando sensações negativas como medo, abandono e ansiedade com esse momento. Nesse caso, tente fazer com que a hora de dormir se torne algo relaxante e um momento de conexão entre vocês, para que ela consiga associar à algo que ela veja como uma experiência positiva e sinta vontade de chegar logo.
O medo não deve ser usada como uma ferramenta parental para a disciplina
Dentro da disciplina tradicional, aonde ainda é usado o medo, chantagem e humilhações como “ferramentas” para se obter um bom comportamento da criança, é comum que os pais se utilizem do medo para ameaçar os filhos. Por exemplo, frases como: “Se você não fizer o dever de casa, o homem do saco virá te pegar de noite!", “Vá dormir ou te deixarei sozinho com o monstro do armário!".
Com isso, você só alimentará o medo de forma não saudável para a criança, prejudicando tanto seu comportamento quanto a relação de conexão e respeito entre vocês.
Guia do medo e a disciplina positiva
Ao adotar as ferramentas da disciplina positiva, conseguimos aprender outras formas de se obter um bom comportamento sem prejudicar o emocional da criança. No mega curso Disciplina sem Drama para crianças de 0 a 4 anos , explico todas as ferramentas práticas que podemos usar nas situações e desafios mais comuns da primeira infância. Veja mais detalhes sobre os módulos e aulas gratuitas aqui.
Além disso, separei um Guia do Medo gratuito para você baixar, aonde explico detalhadamente sobre como agir de modo prático em relação aos medos mais comuns de todas as idades. Para mais detalhes, só vir aqui!
Lembre-se: o medo é uma sensação real
Por mais que alguns motivos pareçam bobos e irracionais para você, lembre-se que o medo é uma sensação real para a criança, independente do que você ache dele. É importante demonstrar que você entende como ele se sente, sem julgamentos ou invalidações sobre esse sentimento. Só assim você será capaz de fazer com que a criança sinta que é capaz de superar o medo e que pode contar com sua presença e ajuda para isso.
Pequenos passos contam muito
É ótimo encorajar a criança a superar seus medos, mas é importante ter paciência com o ritmo dela. Deixe que ela tenha seu processo gradual e possa contar com seu suporte incondicional. Por exemplo, no caso do medo do escuro, você pode pensar em itens de conforto, como: um cobertor especial, um animal de pelúcia de proteção, uma lanterninha ou um spray de água que serve como “repelente de monstros”.
Se precisar, procure um especialista
Caso você perceba que a criança esteja com muita dificuldades de superar o medo mesmo contando com esses itens ou tem se tornado algo realmente prejudicial em seu dia a dia, é importante não hesitar em procurar um especialista para averiguar o caso e evitar que se torne uma bola de neve no desenvolvimento emocional e cognitivo da criança.
Tem alguma dúvida ou sugestão de tema que gostaria de ver respondida aqui no blog? Manda pra mim na caixinha de perguntas do instagram @disciplinasemdrama. Te espero lá. 😊