Ajudando a criança a superar o medo de ir a escola e outras grandes emoções: construa uma narrativa, conte histórias
Continuando nossa narrativa sobre a ansiedade de separação da criança em ir para a escola, muitos pais ainda não sabem o quanto contar histórias e narrar as perspectivas é uma ferramenta poderosa durante essa e diversas outras crises infantis, seja para distrair, acalmar ou ensinar a criança. Por isso, nesse caso, trata-se do método perfeito pra ajudar a criança a superar seu medo de ir para a escolinha.
Para demonstrar melhor, vamos entender o seguinte: o lado direito do cérebro é o responsável por processar emoções puras, memórias autobiográficas, sensações corporais, enquanto o lado esquerdo é quem dá sentido para essas emoções, aonde conseguimos utilizar a lógica e racionalidade. Um processo de cura sobre uma experiência difícil se dá quando o cérebro consegue realizar esse trabalho em conjunto e trazer à tona o sentido dessas emoções e lembranças.
É aí que entra o ato de contar histórias: quando montamos uma narrativa, permitimos que a gente use o lado esquerdo e direito de forma conjunta e assim conseguimos compreender nosso mundo à volta e a nós mesmos. Quando a criança se torna capaz de contar histórias sobre o que aconteceu com ela, ela passa a ter reações mais saudáveis sobre novas experiências.
Mas até isso acontecer de forma natural, é necessário a ajuda dos pais nesse processo. E agora que sabemos um pouquinho sobre como funciona esse processamento do cérebro, fica mais fácil entender que papel dos pais é ajudar a criança a trazer esse sentido de experiência para o lado esquerdo nos momentos de crises e grandes emoções.
Como fazer isso, com situações como a crise de não querer ir para a escola?
A grande lógica dessa ferramenta é: colocar as coisas em ordem e nomear essas grandes emoções. Crianças pequenas costumam ser dominadas pelo hemisfério direito do cérebro, e assim, passam por essas grandes emoções sem saber se expressar através das palavras ou entender o por que daquele sentimento. Assim, elas acabam dominadas pela mistura de lembranças, emoções dessas lembranças e as emoções desencadeadas pela situação presente.
Por exemplo: no livro “O Cérebro da Criança”, os autores Daniel J. Siegel e Tina Payne Bryson descrevem uma situação de uma criança chamada Kate, a qual acabou ficando doente e com isso desencadeou o medo de ser deixada sozinha na escola, dizendo que iria ser abandonada e morrer. Sabendo disso, seu pai, Thomas, construiu a seguinte narrativa para fazê-la compreender o que havia acontecido:
- Sei que está tendo dificuldades em ir à escola desde que ficou doente. Vamos tentar nos lembrar do dia em que você passou mal na escola. Primeiro, nós nos arrumamos para ir para a escola, não foi? Lembra que você quis vestir sua calça vermelha, nós comemos waffles com mirtilos e depois você escovou os dentes? Nós chegamos à escola, demos um abraço e nos despedimos. Você começou a desenhar na mesa de atividades e eu acenei para você. Então, o que aconteceu depois de eu ir embora?
Katie respondeu que se sentiu mal. Thomas continuou:
- Sim. Sei que isso não foi legal, né? Mas daí a professora cuidou muito bem de você e soube que você precisava do papai. Então, ela me ligou e eu fui para lá imediatamente. Não foi muita sorte ter uma professora que cuidou de você até o papai chegar? Daí o que aconteceu? Eu cuidei de você e você se sentiu melhor. - Thomas, então, enfatizou que foi para a escola imediatamente, tudo ficou bem e garantiu a Kate que sempre estaria lá quando ela precisasse dele.
Com isso, o pai sugeriu que fizessem ilustrações para narrar o acontecido, e o problema conseguiu ser resolvido depois que Kate entendeu o porque estava se sentindo assim em relação às emoções de ir para escola e seu corpo, racionalizando o acontecido. Na hora que o adulto consegue montar essa narrativa junto da criança, falando dos acontecimentos, nomeando e validando as emoções que ela passou, ela consegue criar novas associações e aprendizados. Por exemplo, além de compreender como a escola é um lugar seguro, onde ela sempre se divertiu, ela também aprendeu como era possível superar seus medos com o apoio das pessoas que a amam.
Concluindo, a partir do momento que esse processo de contar histórias passa a ser incentivado, isso acabará virando uma forma natural da criança conseguir lidar com situações difíceis da vida, se tornando essa ferramenta poderosa que poderá ser utilizada até sua vida adulta. Que tal começar a utilizar essa ferramenta hoje?
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